São Paulo, 28 de julho de 2025 – A produção de “The Odyssey”, novo longa-metragem do diretor Christopher Nolan, enfrenta críticas de organizações de cinema e direitos humanos por gravar cenas em Dakhla, cidade localizada no Saara Ocidental, região ocupada pelo Marrocos há cerca de 50 anos.
Motivo da controvérsia
O Saara Ocidental é classificado pela Organização das Nações Unidas como “território não autônomo”. Mesmo assim, os Estados Unidos reconheceram, em 2020, a soberania marroquina sobre a área. Grupos que defendem o povo saaraui afirmam que a escolha de Dakhla para as filmagens legitima a ocupação e contribui para violações de direitos humanos.
Em nota, o Festival Internacional de Cinema do Saara Ocidental, sediado em campos de refugiados saarauis na Argélia, acusou o projeto de “contribuir para a repressão” e pediu o fim imediato das gravações na cidade. A diretora executiva do evento, María Carrión, apelou para que Nolan “se solidarize com um povo que vive sob ocupação militar há cinco décadas”.
Mamine Hachimi, ativista saaraui e codiretor do documentário “3 Stolen Cameras”, declarou ao Middle East Eye que filmar sem consentimento dos saarauis representa “cumplicidade cultural” com o governo marroquino.
Reações oficiais
O Ministério da Cultura da Frente Polisário, movimento que reivindica o território e controla parte do Saara Ocidental, classificou a escolha de Dakhla como “violação do direito internacional” e dos “padrões éticos” da produção artística. Já a ONG britânica Adala UK enviou carta ao governo do Reino Unido expressando “profunda preocupação” com o impacto político da filmagem.
Do lado marroquino, Reda Benjelloun, diretor do Centro Cinematográfico Marroquino, declarou a um veículo local que a presença da superprodução é “extremamente importante” para o país e destacou que esta é a primeira grande produção de Hollywood a filmar na região.
Histórico do território
Ex-colônia espanhola, o Saara Ocidental foi anexado pelo Marrocos em 1975, apesar de parecer da Corte Internacional de Justiça apontar ausência de soberania marroquina. A ONU não reconhece a anexação. Parte do território é administrada pela autoproclamada República Árabe Saaraui Democrática (RASD), membro da União Africana e reconhecida por mais de 40 países.
Relatórios de grupos como a Anistia Internacional apontam que Rabat persegue jornalistas e ativistas saarauis por meio de processos judiciais e vigilância. Em 2024, o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos recebeu denúncias de intimidação, discriminação e outras violações.

Imagem: Arturo Holmes/Getty via forbes.com
Detalhes do filme
Com orçamento estimado em US$ 250 milhões, “The Odyssey” adapta o poema épico de Homero e tem estreia marcada para 17 de julho de 2026. O elenco reúne Matt Damon (Ulisses), Anne Hathaway, Charlize Theron, Lupita Nyong’o, Tom Holland, Zendaya e Robert Pattinson.
Segundo a Universal Pictures, o longa será o primeiro blockbuster filmado totalmente com câmeras IMAX desenvolvidas especialmente para o projeto. É também o trabalho mais caro da carreira de Nolan, que assina direção e roteiro.
“The Odyssey” sucede “Oppenheimer” (2023), vencedor de sete Oscars em 2024, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor para Nolan. De acordo com estimativa da Forbes, o cineasta recebeu cerca de US$ 72 milhões em ganhos brutos antecipados por “Oppenheimer”, que arrecadou US$ 975 milhões mundialmente.
Relatos da imprensa marroquina indicam que as filmagens em Dakhla ocorreram na semana passada. A Forbes informou ter procurado a Syncopy, produtora de Nolan, e a Universal Pictures, distribuidora do filme, mas não obteve resposta até o momento.
Com informações de Forbes