Home / Política / Importadores brasileiros de diesel buscam opções a Moscou diante de pressão dos EUA e alta de preços

Importadores brasileiros de diesel buscam opções a Moscou diante de pressão dos EUA e alta de preços

Empresas brasileiras que compram óleo diesel no exterior começaram a procurar fornecedores alternativos ao produto russo. O movimento é atribuído à ameaça de sanções secundárias anunciadas pelo governo dos Estados Unidos e à redução gradual dos descontos oferecidos por Moscou.

Descontos cada vez menores

Segundo Sérgio Araújo, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), o abatimento no preço do diesel russo chegou a US$ 0,15 por galão no início da guerra da Ucrânia, em 2022, mas hoje gira em torno de US$ 0,03. “O desconto ainda existe, mas já não é tão relevante”, afirmou.

Ameaça de tarifas norte-americanas

Em 14 de julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, avisou que imporá tarifa de 100% a países que mantiverem negócios com a Rússia enquanto não houver negociação de cessar-fogo na Ucrânia. Na última segunda-feira (28), Trump cogitou reduzir o prazo de 50 dias que havia concedido para a entrada em vigor das penalidades.

No dia seguinte, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, reforçou que Brasil, China e Índia poderão ser taxados se continuarem a importar derivados russos.

Dependência intensificada após 2022

Dados do Centre for Research on Energy and Clean Air (CREA) indicam que, em 2024, o Brasil foi o segundo maior comprador mundial de diesel russo, desembolsando R$ 38 bilhões — atrás apenas da Turquia. No ano passado, 65% do diesel importado pelo país veio da Rússia; 17% dos Estados Unidos; 6% dos Emirados Árabes; 5% do Kuwait e 7% de outros mercados.

Investigação sobre irregularidades

A deputada federal Silvia Waiãpi (PL-AP) apura possíveis fraudes envolvendo a entrada de diesel russo pelo Porto de Santana, no Amapá. Ela suspeita de sonegação de impostos, uso de empresas de fachada e manobras para driblar o teto de preços imposto pelas sanções primárias do G7 e da União Europeia. A parlamentar conseguiu a suspensão temporária de desembarques no estado e solicitou audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional para discutir o tema.

Importadores brasileiros de diesel buscam opções a Moscou diante de pressão dos EUA e alta de preços - Imagem do artigo original

Imagem: Juliet Manfrin via gazetadopovo.com.br

Capacidade de refino limitada

Apesar de extrair petróleo suficiente, o Brasil importa cerca de 15 bilhões de litros de diesel por ano — 35% do consumo nacional. O engenheiro de petróleo Armando Cavanha, professor da PUC, lembra que o país não possui estoques estratégicos e depende do transporte rodoviário. “Se houver ruptura brusca com o fornecimento russo, o Brasil terá de recorrer a Estados Unidos, Arábia Saudita, Índia ou Qatar, pagando mais caro”, advertiu.

Risco diplomático e econômico

Especialistas como o doutor em Direito Internacional Luiz Augusto Módolo alertam que a continuidade das compras russas pode custar caro ao Brasil em termos de relações com Washington e aliados. O cenário inclui a possibilidade de tarifa de 100% sobre exportações brasileiras para os EUA caso as sanções secundárias se concretizem.

Para Cavanha, a única saída de longo prazo é diversificar fornecedores e ampliar a capacidade nacional de refino. “Não podemos correr o risco de parar os caminhões por falta de diesel”, ressaltou.

Com informações de Gazeta do Povo

Deixe um Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *